Visita Guiada à Igreja de Águas | ||||
Por António Canoso (Professor), em 2014/03/19 | 1772 leram | 0 comentários | 277 gostam | |||
Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Águas, Penamacor | ||||
No passado dia 7 de março, inserido nas comemorações do dia do patrono, Ribeiro Sanches, os alunos do 12º ano do Curso Profissional de Técnico de Turismo Ambiental e Rural promoveram uma visita guiada à igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Águas. As atividades começaram com uma conferência sobre a arquitetura do Estado Novo, proferida pela arquiteta conterrânea Paula Proença que, de forma clara e concisa, ilustrou os presentes sobre as caraterísticas da arquitetura dita “Português Suave”, pela mescla de estilos adaptados aos princípios políticos do regime veiculados pelo Secretariado de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, e inserido naquilo a que ele chamou “Política do Espírito”, visando a criação de um “Homem Novo” português. Seguidamente, os alunos, sob a orientação do professor de Técnicas de Acolhimento e Animação, elucidaram os presentes sobre a origem, caraterísticas técnicas e formais do templo, aplicando o que haviam aprendido nas aulas de História da Cultura e das Artes e se encontra condensado num guia por eles produzido. A igreja de Nossa Senhora de Fátima em Águas constitui o primeiro projeto do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, sob encomenda da família Megre (grandes proprietários de Águas): Primeira igreja modernista construída em Portugal após a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, de Pardal Monteiro (1938). Projetada em 1949 é inaugurada em 1957 e está classificada como monumento religioso em estilo modernista com função de Igreja Paroquial. Apresenta planta poligonal composta por: Nave; Capela- mor mais estreita e iluminada por grelha granítica com vitrais; Capelas laterais (capelas dos fundadores); Janelas sobre as capelas laterais; Batistério; Fachada com grelha granítica e vitrais; Coro alto com guarda em madeira e tubo dobrado; Sacristia adossada à fachada lateral esquerda; Campanário isolado. • O seu enquadramento é feito por adro frontal pavimentado a paralelepípedos com guias oblíquas em granito, tendo em frente um cruzeiro. • O conjunto enterra-se no terreno acompanhando a topografia do local. • O edifício baseia-se em dois conceitos fundamentais - modernismo e tradição. • Modernismo: Na vontade de renovar a arquitetura religiosa; Na conceção de um espaço interior significante; Nos materiais utilizados (betão e vidro); • Tradição: Na integração do edifício no contexto da aldeia; Na adequação do templo ao público a que se destina; Nos materiais utilizados (granito e madeiras), e no telhado de águas; O expressivo espaço interior convida ao deslumbramento: Pela forma orientada, dinâmica e expressiva: Pelas sucessivas superfícies de concordância e descontinuidade; Pelo formato da planta; Pela convergência das paredes laterais com o altar-mor; Pelo movimento dos dois planos do teto; Pela articulação do teto da nave com o teto plano da capela-mor; Pelo formato da assembleia em leque; Pelo conforto acrescentado pela madeira e pela cor quente da tijoleira; Pela estatuária diversa; Pela dimensão espiritual conseguida pela conjugação da luz e da cor; Pela escala humana conseguida através das proporções, dos materiais, das técnicas, bem como da expressão que daí resulta; • O formato da assembleia e a posição do altar-mor anteciparam em 15 anos as modificações introduzidas pelo Concílio Vaticano II, tais como: • O celebrante deixa de ser o pastor que anda à frente do rebanho que o segue, para ser o presidente, alguém que se vira para a assembleia e preside à celebração; • Os fiéis deixam de ser espetadores para assumirem o de participantes; • A igreja deixa de ser a cas de Deus para passar a ser a casa do povo de Deus. Se o traço é de Teotónio Pereira, o conjunto não se esgota nele. Como obra de síntese integra, de forma natural e cuidada, a contribuição artística de um grupo de brilhantes criadores que, valorizando o todo, nele deixaram importante testemunho. Os projetos e as cooperações procuraram também resgatar algum desacerto anterior, a partir da mencionada harmonização entre tradição e modernidade. Assim, para a parede do batistério, António Lino concebeu um painel cerâmico, cenário de um barroco ao serviço de pia batismal; embelezando a branca parede lateral, um conjunto de 14 quadros em madeira policromada rematam um lambril de granito aparelhado, formando uma Via Sacra concebida por António Luís Paiva; a restante estatuária ornamental ficou a cargo de Euclides Vaz; já o interessantíssimo estudo cromático materializando a proposta de uma espacialidade rica de significados, de calor psicológico, de tensão espacial (Paulo Pereira), foi desenvolvido por Frederico George; a primorosa e ajustada decoração da porta do sacrário deve a sua autoria a Graziela Albino; as imagens em terracota, suspensas em bases de ferro negro encastradas na rudeza da parede de granito, bem como o estilizado Cristo de bronze, atestam a contribuição de Jorge Vieira, que não era para sê-lo pois, no pano de fundo do altar em tijoleira, havia sido aberto em sulco grafitado a imagem de Cristo na cruz, iluminada pela luz coada da grelha lateral, solução que acabou abandonada; terminando no jogo de cheios e vazios da torre sineira, de Teotónio Pereira, dentro de um programa arquitetónico enraizado segundo o espírito do lugar. | ||||
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